Tire 10 minutos para entender por que estamos na década mais importante para as estruturas metálicas desde 1900
Você deve estar notando a grande transformação tecnológica pela qual estamos atravessando nesse exato momento. Parece que estamos às portas de uma realidade que antes parecia pura imaginação, cenas que só seriam encontradas em romances e filmes de ficção científica, onde teríamos robôs cuidando de diversas atividades humanas, cidades inteligentes, veículos autônomos, supercomputadores, inteligência artificial, membros biônicos e carros voadores (esse eu ainda acho que demora um pouco, infelizmente).
O fato é que tudo isso está começando a aparecer pouco a pouco, e o que antes parecia sonho, está se tornando realidade. Estamos de fato entrando no processo que alguns chamam de quarta “revolução” industrial, onde o alto grau de automação e a inteligência artificial tornar-se-iam a base do funcionamento da sociedade nesse futuro próximo.
Não quero nesse artigo discutir as implicações filosóficas dessa tal “revolução”, Essa tarefa deixo para os criadores de Blade Runner, nem quero opinar se isso seria algo bom ou ruim, tampouco quero fazer qualquer tipo de previsão do futuro, cravando datas e eventos etc.
O que eu quero falar hoje é sobre as mudanças que já estão acontecendo e como isso transformará o mercado de estruturas metálicas no mundo inteiro, inclusive no Brasil, ainda nessa década. Então, se você quer entender o que está acontecendo e quer saber como deve se preparar para isso tudo, continue lendo esse artigo até o fim
A Internet das Coisas e as Coisas na Internet
Você já deve ter visto em alguma loja de bugigangas eletrônicas por ai: Lâmpadas de Led com bluetooth que podem ser controladas pelo celular, alterando cores, intensidade da luz, tocar música e serem programadas para ligar e desligar em horários específicos. Digamos que isso é um rascunho que seria o conceito de Internet das Coisas. A tendência é surgirem cada vez mais dispositivos que sejam capazes de realizar funções conectados à internet.
Isso é muito mais evidente nas indústrias, especialmente na área de Logística Industrial. Imagine pequenos robozinhos, conectados a uma rede de internet, que são capazes de identificar as peças que precisam ser reabastecidas na linha de produção e vão buscá-las de forma autônoma e tranquila, mantendo a linha de produção abastecida 24h por dia.
Para isso acontecer, tanto o robô quanto as peças precisam estar conectados à internet, e isso pode ser feito através de etiquetas ou chips que são reconhecidos pelo sinal de internet e dizem para o robô qual o status atual: quantas peças existem na linha de produção, quantas estão em estoque, onde se encontram no estoque, quando será necessário o abastecimento, etc. Se no meio do caminho algo diferente acontecer, como uma tag sumir do estoque por problemas de qualidade por exemplo, o robô simplesmente “recalcula” a rota da mesma forma que o Waze faz quando resolvemos tomar outro caminho e soluciona o problema.
Agora imagine as empilhadeiras autônomas, despachando materiais do estoque de produtos acabados usando o mesmíssimo sistema. Imagine barcos autônomos atracando em portos inteligentes… carros autônomos em cidades inteligentes, parando em semáforos inteligentes. Não, isso não está nada longe de acontecer, na verdade está sendo gradativamente implementado nesse exato momento em centenas de fábricas e cidades do mundo.
Mas e o que isso teria a ver com as estruturas metálicas?
Tudo, absolutamente tudo. Vamos por partes.
Como você pode deduzir, esse processo de automação uma hora também vai acontecer na construção civil. Imagine o guindaste inteligente, no canteiro de obras inteligente, construindo prédios inteligentes, etc.. Eu não sei você, mas pra mim é mais fácil imaginar que será mais viável um robô soldador do que um robô com colher de pedreiro e enxada virando massa na obra.
Devemos ter em mente que esses robôs dependem de padronização para trabalhar corretamente. E não há material mais adequado que o aço para participar dessa festa, afinal é um material com altíssima precisão dimensional, flexível, altamente industrializável, fácil de transportar e que faz pouquíssima sujeira.
Percebe como a construção industrializada é muito mais plausível nessa nova organização tecnológica que estamos entrando? As paredes de dry wall serão mais viáveis do que paredes de alvenaria tradicional, as telhas termoacústicas serão mais viáveis do que as telhas de cerâmica tradicionais, os pisos de madeira com placa cimentícia serão escolhidos no lugar de encher laje de concreto. Novamente, não estou aqui pra opinar se isso é bom ou ruim, mas isso é o que está começando a acontecer nesse exato momento, quer gostemos disso ou não.
Assim que as primeiras industrias inteligentes do ramo de construção civil começarem a surgir, ou seja, assim que essa tecnologia se tornar economicamente viável nesse ramo, eles terão uma vantagem tão grande em produtividade e custo em relação às construtoras que conhecemos hoje que será praticamente impossível competir com elas. Elas vão passar a ditar as regras do mercado e com isso os materiais antigos serão substituídos de uma vez por todas pelos materiais adequados para essa nova tecnologia.
Mas você pode pensar: “Mas e a tecnologia de impressão 3D, não seria ainda mais adequada para esse tipo de coisa?”. A resposta é sim, mas nem sempre. A impressão 3D também vai crescer a todo vapor daqui em diante e muitas coisas serão produzidas nessa tecnologia. Mas eu diria que essa técnica fará muito mais sentido para confecção de bens de pequeno tamanho e de alta complexidade e sob medida, como por exemplo partes do corpo humano biônicas, engrenagens, etc. Quando se trata de algo padronizado e com pouca complexidade geométrica como são as estruturas de aço, é mais plausível pensar em um drone levantando vigas numa obra enquanto outro drone faz a soldagem. Pode ser que apareçam algumas mudanças em formatos de perfis ou ligações, mas o conceito de estrutura reticulada, como temos hoje ainda perdurará bastante tempo, mesmo com toda essa tecnologia.
O que já existe, será reconstruído.
Para se ter uma fábrica inteligente, cidade inteligente, porto inteligente, etc, é necessário que a arquitetura do local tenha sido desenvolvida para esse fim. Então não se espante se você começar a ver edificações antigas sendo totalmente demolidas para darem lugar a novos prédios totalmente adaptados para os robôs inteligentes conectados à internet das coisas.
As pessoas vão querer tornar suas casas inteligentes, então quem não puder construir uma casa nova, vai fazer reformas nas casas atuais deixando-a o mais perto possível do ideal. Os prédios públicos, mesma coisa… Você consegue perceber o tamanho do que está preste a acontecer?
Ok, já entendi, mas o que devemos fazer agora?
Essas mudanças vão acontecer aqui no Brasil, mas um pouco depois dos outros países, e nesse caso, isso é ótimo. Eu recomendo que, se você conhecer alguém que mora fora do Brasil, seja na Europa, Japão ou Estados Unidos, procure se manter informado sobre como está o desenvolvimento dessas coisas por lá. Como a mão de obra está reagindo às mudanças, quais estratégias as empresas estão usando para se adaptar, etc.
Outra coisa importante a se fazer é se manter atualizado quanto aos novos softwares para dimensionamento e detalhamento de estruturas metálicas que surgirão daqui em diante. A tendência é serem softwares que serão capazes de gerar estruturas preparadas para a Internet das Coisas, e não somente BIM. Não sei como vai se chamar, nem como isso vai ser, mas presumo que talvez deverá haver alguma intercomunicação entre o software e as habilidades dos robôs que serão utilizados no processo. Tenho certeza de que a realidade aumentada também será algo que vai se desenvolver em velocidade supersônica daqui pra frente.
Se você me perguntar: “e os projetistas e calculistas serão substituídos também?” Eu diria com segurança que não, pelo menos não agora, e acho que isso demora bastante para acontecer, se é que isso seria possível. No Filme Blade Runner, um dos replicantes era engenheiro, vai saber né.
Brincadeiras à parte, fique tranquilo pois eu aposto e ganho que a tendência é outra, o mercado vai é precisar de excelentes desenhistas e calculistas para acompanhar toda a implementação dessa tecnologia, e veja que isso será mundial, então olhe o tamanho da oportunidade que está se apresentando logo mais adiante. Quando uma tecnologia avança, ela tira uma vaga de trabalho de um lado e gera a demanda de uma ou até mais posições de alta complexidade do outro lado.
Então esta será a era de ouro dos programadores, calculistas, projetistas, engenheiros industriais, técnicos de manutenção de robôs, etc.
A melhor estratégia é se capacitar agora para sair na frente quando tudo isso se tornar uma realidade viável
E você, o que acha disso? Você concorda com minha análise sobre a situação? poste nos comentários, quero saber sua opinião a respeito
Um grande abraço e até a próxima!
Eng. Felipe Jacob
Interessante. Não havia me atentado pra tudo isso, mas acredito que realmente vá acontecer nos próximos anos. Já quero me informar mais e procurar estar preparado para atender as novas demandas. Obrigado Felipe, por nos manter atentos às novidades. Excelente trabalho.
Fascinante esta análise sobre as tendências em curso nesta área. Concordo que, com o nível de automação que vai se estabelecer, as oportunidades para engenheiros e técnicos de estruturas metálicas serão grandes e, além disso, essa automação permitirá a quem trabalha com dimensionamento se dedicar a tarefas que realmente agregam valor ao projeto, e não a tarefas repetitivas que consomem o tempo útil.
Show!!
Parabéns Felipe!
Ótimo artigo.
Dentro do tema delimitado, a interação entre tecnologias resulta em benefícios, melhorias e inovação. Refletir sobre tudo isso é o primeiro passo para o desenvolvimento de novos serviços e/ou produtos.
Excelente explanação. Vamos nos capacitar que o mundo nos espera.
Artigo top também tenho a mesma opinião sobre o desenvolvimento tecnologia. Os engenheiros não vão desparecer serão aprimorado cada vez mais.
Muito interessantes os pontos defendidos… Imagino que realmente é um futuro bastante plausível e próximo… Parabéns pela brilhante exposição!
A mudança dos parâmetros de construção ainda irá depender dos custos de produção das commodities e o aço ainda é caro para substituição do concreto. Mas é um caminho sem volta, inclusive as estruturas por materiais compósitos. Para hoje uma interface inteligente aliar um projeto arquitetônico ao cálculo de uma estrutura é um caminho longo e complexo por não haver padronização e tendências baseadas na criatividade, ao passo que os materiais de construção teriam de ser também alimentados por dados oriundos das inovações da engenharia de materiais. Mesmo assim, a engenharia será necessária para dar molde a tudo isso, logo é fato de que os projetistas, programadores e calculistas serão muito requisitados nos próximos anos.
Achei muito interesse oque falou em quarta geração d da revolução da indústria!! Creio que com a tecnologia acessível a muitas pessoas, mais profissionais de engenharia e outras áreas afim terá um vasto crescimento.
Muito bom Felipe, pontos importantissimos abordados e de fato estamos em um momento de transição cada vez mais acelerada.